O que o Catar e São Paulo têm em comum?

Talvez nem todos saibam, mas o Catar e os estádios de São Paulo possuem uma característica em comum: a proibição da venda de bebidas alcoólicas dentro das arenas. No país que sedia a Copa do Mundo, o veto tem a ver com rigidez da cultura muçulmana, já que pelas regras locais, é proibido o consumo em lugares públicos.

O assunto é levado tão a sério que uma das imposições criadas pelas autoridades é que qualquer tipo de bebida alcoólica só vai poder ser consumida na fan fest e nos entornos dos oito estádios do Mundial. Sem contar o fato de que haverá um limite de quatro copos de cerveja por torcedor, para evitar excessos.

A Família Real do Catar chegou a emitir um comunicado à AB InBev, marca de propriedade da Budweiser, cervejaria oficial do evento, obrigando a mudar locais de venda de cerveja para que tenham menos visibilidade em locais próximos aos estádios.

“A AB Inbev, que é uma patrocinadora tradicional e de longa data da FIFA, sai perdendo em parte do que pode extrair do seu alto investimento. Além disso, previsibilidade é fundamental para execução de ativações de sucesso, ainda mais em eventos globais como a Copa do Mundo”, opina Armênio Neto, especialista em novos negócios da indústria do futebol.

E como funciona a venda de bebidas no Brasil?

No Brasil, apesar da venda de bebidas ser permitida deliberadamente fora dos estádios, dentro deles ainda existem algumas restrições. Dos 12 estados brasileiros, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás e Alagoas não permitem a venda de bebidas alcoólicas dentro das suas dependências.

Em São Paulo, a venda foi proibida há quase três décadas pela Lei Estadual nº 9.470, de 1996, um ano depois da briga entre torcedores de Palmeiras e São Paulo, na decisão da Supercopa São Paulo de Juniores, no Pacaembu.

“O consumo de bebidas alcoólicas acontece em bares, baladas, shows e em muitas áreas públicas. Não tem porque o futebol ficar à margem disso”, defende o presidente da Portuguesa, Antônio Carlos Castanheira.

Em Santa Catarina, a venda começa apenas trinta minutos antes do início da partida, enquanto que no Rio Grande do Norte, a venda vai até o término do jogo. Nos outros Estados que possuem autorização, o consumo acontece a partir da abertura dos portões. Na Bahia, Rio Grande do Norte, Espírito Santos, Pernambuco e Ceará é liberada a venda do tamanho máximo do copo de 500ml. Já Alagoas e Santa Catarina autorizam o copo de 600ml.

Já em Minas Gerais, apesar do consumo liberado, é proibido que isso seja feito nas arquibancadas e cadeiras. “É possível prever um aumento de lucro em ingressos e do consumo dos torcedores por partida, promovendo grande rentabilidade aos negócios em geral e consequentemente aos times caso aconteça a liberação. Favorece a todos, desde os empreendedores locais até os clubes”, comenta Samuel Ferreira, CEO da Meep, empresa que será responsável por todo sistema de atendimento e pagamentos na Arena MRV, novo estádio do Atlético-MG.

Segundo a GSH, empresa responsável pelo setor de alimentos e bebidas do Allianz Parque, arena onde o atual campeão brasileiro, o Palmeiras, manda seus jogos, a liberação de bebidas alcoólicas nos estádios de São Paulo representaria um aumento de aproximadamente 30% do faturamento. A medida também teria reflexo direto na geração de empregos, com a contratação de mais atendentes, operadores de caixa e ambulantes, por exemplo.

Alguns especialistas ligados ao assunto defendem a liberação, desde que acompanhadas de medidas que não gerem violência. “Vejo como um caminho importante para todas as partes envolvidas, mas desde que também ocorra uma campanha de conscientização dos torcedores para o consumo moderado, a fim de evitar eventuais ocorrências dentro dos estádios”, aponta Fábio Wolff, especialista em marketing que atua com marcas junto a personagens esportivos.

Renê Salviano, da agência Heatmap, que atende empresas que atuam em estádios como Allianz Parque e Mineirão, também vê a liberação com bons olhos. “Sou favorável, assim como acontece em outros segmentos de entretenimento, mas também acho que uma ideia legal é fazer campanhas de conscientização sobre o consumo excessivo de bebidas alcoólicas no dia a dia, além de orientar e educar sobre as punições ao clube mandante quando jogam materiais no campo ou quando acontecem brigas e confusões”, esclarece.

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