Ao entender o processo de transformação da uva numa das bebidas mais consumidas do planeta, o apreciador pode fazer escolhas conscientes e melhores
Entrar no mundo dos vinhos é embarcar em uma jornada de descobertas sensoriais e culturais. É um longo caminho repleto de novos conhecimentos, desde a influência da rolha no sabor do líquido até a razão pela qual diferentes vinhos são servidos em taças distintas. As curiosidades são um ponto de partida para aprender a apreciar, não apenas o sabor, mas também a complexidade e a história por trás de cada garrafa.
O primeiro conceito que precisa ser desmistificado é que é necessário gastar muito para apreciar um bom vinho. Há uma infinidade de opções acessíveis que oferecem excelente sabor e custo-benefício. “Experimentar diferentes rótulos e descobrir seus próprios gostos é parte da diversão, independentemente do orçamento”, explica Ahmad Yassin, da Vestcasa, rede varejista especializada em itens para a casa, alimentos e bebidas.
Em 2023, a Vestcasa acompanhou de perto a busca do consumidor brasileiro por opções que aliam acessibilidade e alta qualidade. Desde o ano passado, a rede comercializa com exclusividade o KIM, gran reserva (vinho premium produzido em excelentes safras e amadurecido por bastante tempo) da vinícola chilena Casas Patronales. Em apenas um ano foram vendidas mais de 22 mil garrafas (um número bastante expressivo para apenas um rótulo). Com preços verdadeiramente competitivos, os sócios do Clube Vestcasa pagam R$ 62,93 pela garrafa do KIM.
Antes de escolher o seu próximo rótulo, confira as dicas do João Carlos, especialista da Casas Patronales, para você ampliar seus horizontes enológicos.
- A rolha não é apenas um detalhe
Enquanto muitos associam a rolha de cortiça a tradição ou prestígio, ela desempenha uma função crucial na preservação do vinho. É a responsável pela vedação hermética da garrafa, impedindo a entrada de ar. O contato com o oxigênio pode oxidar a bebida, resultando em sabores indesejados e deterioração da qualidade.
Para fazer jus à filosofia de que quanto mais velho o vinho for, melhor o sabor, é preciso uma rolha de qualidade para manter as condições ideais de envelhecimento, que permitam a liberação controlada de oxigênio no líquido. Além de evitar a entrada de ar, o aparato também ajuda a manter a frescura do vinho, evitando a evaporação excessiva de compostos voláteis que contribuem para o aroma e o sabor característicos.
- Taças vão além da função estética
Para cada perfil de vinho, uma taça — não por questão de bom gosto, mas de funcionalidade. O formato do recipiente é projetado para permitir que a bebida respire e desenvolva seus aromas, influenciando na sua concentração e direcionando-os para o nariz do degustador, proporcionando uma experiência sensorial mais rica.
O tamanho da taça afeta a quantidade de vinho que pode ser derramada e a relação entre a superfície exposta ao ar e o volume de líquido. As maiores são ideais para vinhos mais encorpados, como os tintos, permitindo uma maior interação com o ar, enquanto as menores são mais adequadas para vinhos mais delicados, como o branco. Depois do formato, o material também influencia. A preferência é por cristal fino, pois não interfere no sabor e permite que o vinho seja apreciado visualmente com maior clareza.
O formato e a espessura da borda da taça podem influenciar a maneira como o vinho atinge o paladar. As bordas finas e lisas permitem um fluxo suave do vinho para a boca, enquanto as bordas grossas podem interferir na experiência de degustação.
- O papel do decanter na mesa
O decanter é mais do que um simples recipiente para verter o vinho. A transferência cuidadosa da bebida para um decantador permite que ela respire e se abra completamente. Especialmente para vinhos mais jovens e encorpados, o processo pode suavizar os taninos, substâncias presentes nas sementes que possuem sabor amargo, e intensificar os aromas, proporcionando uma experiência sensorial completa.
Em vinhos mais velhos, é comum que sedimentos se formem no fundo da garrafa. Ao usar um decanter, é possível separar esses sedimentos do líquido, garantindo uma degustação mais agradável. A temperatura também pode se beneficiar com a decantação do vinho. Se a garrafa estiver armazenada em uma temperatura mais baixa do que a ideal para consumo, o decanter pode ajudar a trazer o vinho para a temperatura correta.
- As uvas também são diversas
As uvas são um dos principais fatores que influenciam o sabor, aroma e características de um vinho. Existem milhares de variedades da fruta ao redor do mundo, cada uma com suas próprias características. Geralmente são classificadas em duas categorias principais: tintas e brancas. Uvas tintas, como Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir, são usadas para produzir vinhos tintos, enquanto uvas brancas, como Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling, são usadas para vinhos brancos. Você já deve ter lido “terroir” nas garrafas. O termo se refere ao ambiente específico onde as uvas são cultivadas, incluindo solo, clima, topografia e práticas agrícolas.
Cada variedade de uva tem um perfil de sabor único. Por exemplo, uvas Cabernet Sauvignon tendem a produzir vinhos encorpados, com notas de frutas escuras e taninos firmes, enquanto uvas Chardonnay podem resultar em vinhos mais cremosos, com sabores de maçã, abacaxi e carvalho, se envelhecidos em barris de carvalho. Muitos vinhos são feitos a partir de uma mistura de uvas, o que pode adicionar complexidade e equilíbrio ao vinho. Por exemplo, um vinho Bordeaux típico pode ser uma mistura de Cabernet Sauvignon, Merlot e outras uvas.
- O ano também faz a diferença
Ao escolher um vinho, a safra pode fazer toda a diferença. Cada ano de produção traz consigo características únicas, influenciadas por fatores como clima, colheita e técnicas de vinificação, procedimento que transforma uva em vinho. Embora nem sempre seja o único fator determinante da qualidade da bebida, conhecer a safra pode ajudar os iniciantes a fazer escolhas mais informadas e a descobrir verdadeiras joias enológicas.
Um ano com clima mais quente e seco pode resultar em uvas mais maduras e concentradas, produzindo vinhos mais encorpados e intensos. Por outro lado, um ano mais frio e úmido pode levar a uvas menos maduras e vinhos mais leves e frescos.