Culinária tradicional sergipana no livro Panela Sergipana

Culinária tradicional e rural sergipana é retratada em livro que resgata alimentos esquecidos e histórias de quem preserva essas comidas

“Comida enquanto manifestação da cultura compõe nossa identidade e nos singulariza. É ela que ocupa lugar nas lembranças dos mais velhos e pode ser repassada como objeto cultural aos mais jovens”, afirma a pesquisadora Paloma Naziazeno, que lança o livro Panela Sergipana: sabores da terra de araras e cajus no dia 21 de abril, às 17h, no projeto virtual Quanto mais a prosa invade, mais a poesia resiste – um bate-papo realizado pelo curso de Jornalismo Gastronômico, de Juliana Dias e Juliana Venturelli. A conversa será realizada por meio da plataforma Zoom, podendo participar 100 pessoas. Para se inscrever, basta enviar um e-mail para: [email protected].

Foram dois anos de pesquisas e mais de dois mil quilômetros entre idas e vindas por todo estado de Sergipe para que Panela Sergipana ficasse pronto. O livro, contemplado pelo Rumos Itaú Cultural 2017-2018, foge dos modelos já conhecidos de receitas e resgata alimentos esquecidos, memórias e valoriza a história da gastronomia sergipana como patrimônio imaterial. O volume também conta com o trabalho da fotógrafa documental Melissa Lee Warwick, produzindo material fotográfico acerca dos alimentos e das pessoas que os cultivam, e da chefe de cozinha Seichele Barboza, que ressignifica os ingredientes, assinando 14 receitas, trazendo-os para a linguagem gastronômica contemporânea.

“Sergipe é, em sua origem, patriarcal e ruralista, o menor estado da federação, mas com muita identidade”, fala Paloma. Desta forma, Panela Sergipana preenche uma lacuna no que tange à publicação de obras voltadas para a peculiaridade da culinária alternativa de comunidades rurais sergipanas. Dá voz aos excluídos da história, mas que mantém tradições seculares no manuseio e preparação de receitas não mais presentes no cotidiano alimentar de núcleos urbanos mais desenvolvidos.

O projeto Panela Sergipana: sabores da terra de araras e cajus, de Paloma Naziazeno e selecionado pelo Rumos Itaú Cultural, salvaguarda o saber fazer de antigos alimentos que povoavam as mesas dos sergipanos do campo. Uma velha dieta cotidiana, intrinsecamente  ligada à terra, que se fazia presente inclusive na capital

Foram 12 municípios percorridos dentro de outro Sergipe, mais profundo, agora visto pela comida. Paloma escolheu entrar no mato e nas cozinhas, sentar-se ao lado das pessoas que habitam o sertão sergipano. Várias abriram suas casas, contaram sobre suas vidas, mostraram suas terras e preciosidades que brotavam nelas. “Ouvi um a um, com calma e sentidos aguçados, fui levada a me conhecer através deles”, conta a autora. “Lembrei de vó, das tias velhinhas, do tempo de mãe que contava sobre uma outra Aracaju. A comida nos identifica”, diz.

“O sociólogo Maurice Halbwachs disse que a memória além de individual, é um fenômeno social e/ou coletivo. Pude resgatar memórias que demarcam uma identidade, um tempo, um gesto, cheiros”, continua Paloma. “Quando resgatamos histórias sobre comida nunca é somente a comida, vem a memória afetiva e tudo o que nos torna daquele lugar, o que diferencia o eu do outro.”

As cidades foram escolhidas justamente por causa dos alimentos pesquisados e, mesmo assim, alguns lugares originais que estavam no projeto foram cortados do resultado, pois os alimentos estudados não existiam mais. No livro, entraram 15: Maxixão, Major Gomes, Caboge, Pirambeba, Saburica, Café de Quiabo, Cacto Cabeça de Frade, Cambucí, Umbucajá, Maracujá de Trovoada, Coalhada de pepino, Cuminho, Bufú, Maniçoba, Cachaça de Capela – a tradicional cachaçaria artesanal sergipana, entra no livro, mostrando as formas de cultivá-la e maneiras de pô-la à mesa.

Lista de municípios visitados e suas comidas

  • Comunidade Quilombola Sítio Alto-Simão Dias: Maracujá de Trovoada
  • Ilha das Flores: Cambuí
  • Betume, Neópolis: Maxixão e Coalhada de pepino
  • Lagarto: Maniçoba
  • Canindé do São Francisco: cacto Cabeça de Frade
  • Aracaju: Cominho, Major Gomes
  • Rezina, Brejo Grande:  Peixe Pirambeba
  • Cedro de São João: saburica, espécie de camarão, e caboge, um peixe
  • Assentamento Amargosa 2, Poço Verde: doce da bufú
  • Capela: cachaça artesanal de Capela
  • Aquidabã: café de quiabo
  • Assentamento Jacaré-Curituba, Poço redondo: umbu-cajá
  • Neópolis e Aracaju: dicuri

Jornalismo Gastronômico

O curso de Jornalismo Gastronômico foi criado pela jornalista Juliana Dantas e é ministrado, além dela, pela professora Juliana Venturelli – as “Jus”. O currículo das aulas, mescladas em teoria e prática, une comunicação, cultura e educação. Os principais temas abordados são contextualização sócio-histórica do campo do jornalismo gastronômico, ciências sociais e humanas no campo da alimentação, literatura e gastronomia, alimentação e transdisciplinaridade, estudos de caso de festivais gastronômicos, métodos de pesquisas no campo da alimentação, oficinas audiovisuais e atividades de campo – como coletiva de imprensa, reportagem, cobertura de evento.

 Itaú Cultural digital

Neste período de suspensão de atividades presenciais em sua sede, o Itaú Cultural está ampliando a produção de conteúdo para diversos públicos, como podcasts, cursos de EAD e vídeos, no site e redes sociais da instituição e na Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. Para acessar: www.itaucultural.org.br.

Sobre o Rumos Itaú Cultural

Um dos maiores editais privados de financiamento de projetos culturais do país, o Programa Rumos, é realizado pelo Itaú Cultural desde 1997, fomentando a produção artística e cultural brasileira. A iniciativa recebeu mais de 64,6 mil inscrições desde a sua primeira edição, vindos de todos os estados do país e do exterior. Destes, foram contempladas mais de 1,4 mil propostas nas cinco regiões brasileiras, que receberam o apoio do instituto para o desenvolvimento dos projetos selecionados nas mais diversas áreas de expressão ou de pesquisa.

Os trabalhos resultantes da seleção de todas as edições foram vistos por mais de 7 milhões de pessoas em todo o país. Além disso, mais de mil emissoras de rádio e televisão parceiras divulgaram os trabalhos selecionados.

Nesta edição de 2017-2018, os 12.616 projetos inscritos foram examinados, em uma primeira fase seletiva, por uma comissão composta por 40 avaliadores contratados pelo instituto entre as mais diversas áreas de atuação e regiões do país. Em seguida, passaram por um profundo processo de avaliação e análise por uma Comissão de Seleção multidisciplinar, formada por 21 profissionais que se inter-relacionam com a cultura brasileira, incluindo gestores da própria instituição. Foram selecionados 109 projetos, contemplando todos os estados brasileiros.

 

Lançamento do Livro Panela Sergipana: Sabores da terra de araras e cajus
De Paloma Naziazeno
Dentro do projeto virtual Quanto mais a prosa invade, mais a poesia resiste
Pelo curso de Jornalismo Gastronômico, de Juliana Dias e Juliana Venturelli
Dia 21 de abril de março (terça-feira) Às 17h
Inscrições antecipadas: [email protected] (colocar nome e telefone)
100 pessoas
Local: plataforma Zoom
Duração: 3 blocos de 20 minutos cada
Mais informações:
Instagram: @palomanaziazeno: https://www.instagram.com/p/B-Kf_xKhVAP/
@jornalismo.gastronomico: https://www.instagram.com/p/B-IRsGkJB7z/