A pandemia do COVID-19 afetou o mundo de várias maneiras. Com os impactos na saúde e dos aspectos negativos vivenciados pela sociedade, muitos segmentos de mercado tiveram que se adaptar a uma nova realidade. No movimento de mudança de comportamento e hábitos das pessoas, a indústria de pescados e frutos do mar teve grande impacto positivo.
O recém-lançado relatório anual do Conselho Norueguês da Pesca (NSC) revela as tendências de consumo de pescados e frutos do mar que estão surgindo rapidamente impulsionadas pelos meses de pandemia. Com a mudança dos canais de compra, face ao fechamento de lojas e acesso restrito, aconteceu um crescimento acentuado no e-commerce de supermercados, levando o conceito muito além da loja online semanal.
Todo o setor, incluindo fornecedores atacadistas a restaurantes independentes locais, foi desafiado a criar novos fluxos de receita que ofereçam uma solução conveniente e versátil, ao mesmo tempo em que atendem à demanda de um consumidor mais preocupado com a sustentabilidade.
No ano de 2020, o Brasil foi o quarto país do mundo com maior crescimento no e-commerce (35%).
Muitas tendências estão sendo impulsionadas pelos consumidores mais jovens, observa o relatório do NSC. Embora esse grupo de consumidores compre menos peixes e frutos do mar, eles também estão estimulando novos tipos de comércio. É um grupo que se inspira por novidades digitais e online e que está disposto a experimentar novos produtos fáceis e convenientes. Eles geralmente são os consumidores que pressionam por clareza em torno da cadeia sustentável.
Fome de conveniência
Lars Moksness, analista de comportamento do consumidor do NSC, diz que o comércio eletrônico acelerou tão rapidamente, com milhões de consumidores optando por comprar online durante a pandemia, que “pensar em online X offline já é antigo. A questão não é você está comprando online, mas sim que tipo de online. De qual plataforma você está comprando.”
• Alguns mercados são notavelmente mais avançados: a Ásia-Pacífico teve a maior proporção de comércio eletrônico nas vendas de alimentos comestíveis em 2020, com 9%. Uma pesquisa da McKinsey de 2021 mostrou que 74% dos entrevistados chineses usaram um serviço de entrega de supermercado nos três meses anteriores;
• Outros tiveram um crescimento especialmente rápido durante a pandemia: apesar do comércio eletrônico representar apenas 2,7% das vendas de alimentos comestíveis na América Latina em 2020, o eMarketer descobriu que era a região de crescimento mais rápido para o comércio eletrônico em geral naquele ano, com 36,7 % taxa de crescimento;
Outra tendência que cresceu nos últimos meses é o apetite por conveniência. Desde entregas de supermercado em 10 minutos, com darkstores que atendem apenas empresas terceirizadas, a kits que permitem recriar seus pratos favoritos de restaurantes em casa, essas tendências rapidamente se tornaram hábitos de consumo em um curto período de tempo.
O relatório aponta para vários tipos emergentes de novo comércio. No entanto, para a Moksness, os provedores de entrega de última milha (LMD), ou serviços de entrega terceirizados, talvez sejam os mais interessantes. “Acredito que isso pode ser um verdadeiro impulso para as empresas locais”, diz ele. “Através de um terceiro, há um potencial real para revitalizar negócios de pequena escala em lugares pequenos, como o açougue ou o mercado de peixe fresco, que não tem capacidade para executar seu próprio serviço online.”
A confiança dos consumidores em comprar online itens como carne e peixe, sem poder efetivamente ver ou cheirar o produto, tem nessa entrega terceirizada — LMD um impulsionador. “Quando você pode encomendar peixe fresco da peixaria local, você elimina qualquer problema de confiança com o produto porque você conhece a loja e já compra lá”, explica Moksness.
Esse modelo indica uma oportunidade importante para o crescimento da do comércio de pescados.
Brasil, China, Índia e México lideram a lista de países que adotam novos modelos de comércio – como comércio social e live streaming -, de acordo com um relatório de outubro de 2021 relatório da Ipsos (Chaltas, Goldring & Latimore, 2021). Nos últimos seis meses, o percentual de consumidores que utilizam diferentes tipos de comércio digital com regularidade nestes países variou de 25% a 45%. Já Reino Unido, Canadá, Rússia e Japão foram os países da pesquisa com menor índice de uso frequente ou regular, em menos de 10%.
Compra consciente
As questões de sustentabilidade são importantes e foco do setor. Todos, de governos a consumidores, exigem cada vez mais transparência neste cenário.
Uma questão analisada pelo relatório o NSC busca entender se a busca por conveniência reduzirá os avanços em sustentabilidade. A indicação é que não, uma vez que com os avanços da tecnologia ambos serão complementares. Como exemplo estão as entrega de veículos elétricos, a busca por embalagens mais sustentáveis e a diminuição do uso de plástico.
A indústria de pescados e frutos do mar já traz exemplos onde a tecnologia e a sustentabilidade convergem — muitas vezes de maneiras nada óbvias. O relatório destaca a empresa norueguesa Vesterålen Havbruk, que utiliza de forma inovadora a tecnologia blockchain para melhorar a transparência e atender às demandas de uma geração cada vez mais jovem de consumidores conscientes com a saúde, o clima e cuidado com os animais. O aplicativo da empresa ‘CodSwap’ permite que os usuários rastreiem seu bacalhau desde a captura, passando pelo processamento e transporte antes de chegar ao destino de um negociador.
Destaque também para as campanhas da Godfisk, marca de consumo da NSC na Noruega, que mostram como é simples e fácil cozinhar pescados de forma sustentável. Um produto fácil, conveniente, saboroso, simples de fazer.
Consumidores saudáveis e um planeta saudável
O segundo relatório anual do NSC mostra claramente as oportunidades que a indústria de pescados e frutos do mar — além de outras — podem aproveitar nos próximos anos. O apetite por conveniência continua a crescer em todo o mundo, mas a necessidade de soluções sustentáveis é cada vez mais prioritária. Existe uma necessidade crescente de empresas em todo o mundo investirem em mudanças responsáveis — focando na saúde do consumidor e no futuro do planeta.