O Brasil, em sua pluralidade cultural, conta com benéficas relações com diversas nações. E com a Noruega não seria diferente. E é por causa da tradição do comércio bilateral entre os dois países que a Embaixada da Noruega, em Brasília, sediou, na última quinta-feira (20/09), a 6ª edição da Noite do Bacalhau. O evento contou com a presença de autoridades, professores, diplomatas e personalidades culturais. O objetivo foi celebrar a tradição norueguesa e a relação entre ambos países no setor da pesca.
A parceria gastronômica entre o Brasil e a Noruega nasceu em 1842, ano em que a primeira leva de bacalhau chegou às terras brasileiras. De janeiro até julho deste ano, a exportação total de bacalhau da Noruega foi 47.891 toneladas. Só o Brasil comprou quase 9 mil toneladas.
O 3 Talheres foi convidado para a noite especial, que é lembrada com carinho pelo embaixador norueguês no Brasil, Nils Martin Gunneng, e sua esposa, a embaixatriz Andrea Gunneng. “Essa é uma das nossas datas favoritas do ano. É uma festa maravilhosa e ninguém entende mais de festa do que os brasileiros”, afirma o embaixador. Segundo ele, “o Brasil é o melhor mercado para o bacalhau, além de que vocês [brasileiros] fazem o bacalhau com as melhores receitas”, ressaltou Nils Martin Gunneng.
Vale lembrar que o Brasil é um dos mercados mais importantes para bacalhau salgado seco da Noruega e 60% a 70 % do consumo de bacalhau ocorre durante a Páscoa e o Natal.
Verdadeiro banquete
O evento contou com um banquete comandado por dois chefs: o dinamarquês Simon Lau e o brasileiro Rodrigo Viriato. Os convidados tiveram a oportunidade de acompanhar todo o processo de elaboração dos pratos, que foram feitos no meio da festa.
Simon Lau preparou salmão e frutos do mar como caranguejo. Também foi servido canapés de arenque (foto principal deste texto). “A Noruega faz muito arenque, que passa com um processo parecido com o do bacalhau porque é muito salgado e marinado”, explica o chef.
Entre os pratos, ele elaborou um que combinou muito com o calor do clima brasileiro: “Geralmente bacalhau é mais pesado, então quis fazer algo mais leve. Fiz uma salada com bolinhos de melão e um molho feito com melão, suco de limão, creme e pimenta, folhas e croutons.” Como prato principal, Simon preparou um bacalhau com cogumelos cozidos no fumet de mexilhões.
“Na Noruega se come bacalhau o ano inteiro. Não é uma coisa que se come só no Natal, como aqui. Aqui entendo que é uma iguaria que vem de longe. Na Noruega é uma especialidade porque vem de lá mesmo”, comenta Simon.
Inovação brasileira
O chef brasileiro Rodrigo Viriato veio especialmente de Fortaleza para cozinhar o melhor bacalhau norueguês em diversas combinações de pratos. E uma delas foi surpreendente: um bacalhau adocicado. “O embaixador deu liberdade total para fazer o bacalhau de formas inusitadas. Como eu não fiz sobremesa, quis elaborar algo que aguçasse um pouco o desejo de quem come doce. E como tendo preparar sempre pratos que trazem uma acidez e doçura misturados com o salgado, eu acho que o açúcar combina bem com o bacalhau, assim como as frutas”, diz ele, que fez um bacalhau com pera confitada preparada com vinho branco e manteiga. Uma crocância no prato pode ser apreciada com uma casca de laranja confitada por cinco dias e passada no açúcar.
Viriato traz consigo uma expertise no preparo do bacalhau, pois já foi três vezes para a Noruega e compreende como poucos o processo de salga e dessalga do bacalhau. “Preparo muitos peixes e bacalhau. Em Fortaleza, tenho uma rede de empresas: buffets, restaurantes, cafeteria e pizzaria. Também sou da Universidade Federal de Gastronomia”, conta.
O jantar contou também com uma mesa de doces típicos da Noruega, servidos com chá ou café. O brasiliense pôde experimentar delícias como o pepperkaker (feito com açúcar, canela, cravo, gengibre e manteiga).